domingo, 28 de fevereiro de 2010

MINHAS POESIAS/CARTAS DE AMOR

Por incentivo de um amigo querido resolvi me reencontrar com as poesias, ou melhor, com as minhas poesias.
Primeiramente resolvi procurar as poesias que havia escrito e estavam perdidas pelos cadernos da faculdade e digitalizá-las. Depois, reencontrei uma antiga agenda que utilizei por anos para guardar minhas poesias e contos ou crônicas.
Mas foi inevitável lembrar-me da poesia de Fernando Pessoa, não pela minha forma de escrever... que seria uma pretensão descabida, mas por ter por tema o amor e minhas relações amorosas. A grande maioria das poesias que reencontrei são marcas da minha vida amorosa, de solidão, felicidade, tristeza e todos os sentimentos imagináveis que as relações amorosas possam causar.
O que me fez lembrar de Fernando Pessoa foi por estas poesias serem como cartas guardadas, cartas de amor. E, em relação às cartas de amor, sabiamente o poeta escreveu:

Todas as cartas de amor...

Fernando Pessoa
(Poesias de Álvaro de Campos)


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)


Álvaro de Campos, 21/10/1935




Posso dizer, parafraseando o poeta, que minhas poesias são de palavras esdrúxulas, como os sentimentos exdrúxulos, são naturalmente ridículas.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

PINTURA ÍNTIMA

Escuridão dos meus dias
Vodka e Tequila me embalam
Ritmo louco que, sim, sou eu
Sou além do que falam

Os cabelos desgrenhados
Não reconheço a imagem
Picasso? Portinari?
todo um vernissage

Tarsila ou Toquinho reconheceria
Nos versos de Drumond a pintura
Belo ou feio é heresia
O que importa é ver de alma pura

Sentir o álcool nos olhos
Tocar a noite com as veias
Desenhar um céu de apocalipse
Saber o quanto me incendeias

domingo, 21 de fevereiro de 2010

ME IDENTIFICO II

Fernando Pessoa
Deixei atrás os erros do que fui

Deixei atrás os erros do que fui,
Deixei atrás os erros do que quis
E que não pude haver porque a hora flui
E ninguém é exato nem feliz.
Tudo isso como o lixo da viagem
Deixei nas circunstâncias do caminho,
No episódio que fui e na paragem,
No desvio que foi cada vizinho.

Deixei tudo isso, como quem se tapa
Por viajar com uma capa sua,
E a certa altura se desfaz da capa
E atira com a capa para a rua.

ME IDENTIFICO I


SIMULTANEIDADE

- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver!
- Você é louco?
- Não, sou poeta.

Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo (Poesia Completa, p. 535)

Me envaidesse

Não me recordo a data, mas já há alguns meses, recebi um lindo poema de uma dos maiores poetas que o mundo já viu: Pablo Neruda.
O poema é simples e complexo, ou convexo, não sei explicar. Sei o que senti, e isso posso resumir assim chamando, vaidade.

Eis que apresento o motivo de minha vaidade.

Plena mulher, maçã carnal, lua quente,
espesso aroma de algas, lodo e luz pisados,
que obscura claridade se abre entre tuas pernas?
que antiga noite o homem toca com seus sentidos?
Ai, amar é uma viagem com água e com estrelas,
com ar opresso e bruscas tempestades de farinha:
amar é um combate de relâmpagos e dois corpos
por um so mel derrotados.
Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito,
tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos,
e o fogo genital transformado em delícia
corre pelos tênues caminhos do sangue
até precipitar-se como um cravo noturno,
até ser e não ser senão na sombra de um raio.

Pablo Neruda

ORVALHO E UTOPIAS

Há poucos dias me vi em um dilema, algo que ainda não havia me ocorrido: não acreditava em mais nada!
Vi os meus sonhos, minhas utopias para melhor dizer, evaporarem como o orvalho ao sol. Contudo não foi uma evaporação delicada como o tocar dos raios de sol no orvalho, foi violento como um terremoto que deixa tudo aos cacos e os cacos viram pó.
Mas derrepente, e não mais que derrepente, ao ler poesias para alegrar a amargura de mais uma noite, me deparo com as palavras mágicas do menino poeta que mudou tudo novamente. Eis o que o “poetinha” proferiu:

DAS UTOPIAS

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!

E assim como o evaporar do orvalho iluminado pelo sol, senti a utopia ressurgir em mim, alimentar meus sonhos, iluminar meus caminhos.
Dessa vez foi o silencio da noite que me tocou com o orvalho... e espero que ele surja misteriosamente e evapore no calor da vida sempre... que os orvalhar de meus olhos tristes seja para o nascer de um novo sol uma deliciosa bebida. Utopias.